20 Years After. A minha história com o Primavera Sound

Por João Paulo Feliciano (director artistico del recinto de Primavera Sound, Porto) rewind (back in the days of youth) Nos anos 90 tive uma banda rock – os Tina & The Top Ten. Em 1994, quando saiu o único album da banda (Teenage Drool), tocámos em Madrid (Sala Maravilas) e Barcelona (Nitsa Club). No final do concerto em Barcelona eu e o promotor local conversámos um bom bocado, em frente ao Nitsa. Foi antes do email e da internet. Não ficámos em contacto. Inclusivé esquecemos os nomes um do outro. Os Tina não voltaram a tocar em Espanha e acabaram em 1998.

fast-forward Ínicio de outubro de 2011 – estou a chegar a Lisboa depois de duas semanas no Brasil e Argentina. Compro o jornal do dia e ao folheá-lo os meus olhos saltam com uma notícia: Optimus Primavera Sound, confirmado no Porto, no Parque da Cidade, em junho de 2012”. Pestanejei. Será que estava a ler bem? Se aquela noticia era verdade alguma coisa de extraordinário estava para acontecer. Bastava juntar os dados disponíveis: o Primavera Sound – uma história de mais de 10 anos em Barcelona, sempre com cartazes incríveis; o melhor festival pop-rock na Europa – a Optimus – nessa altura a marca portuguesa mais comprometida com a música; e com quem tinha tido uma ótima experiência (Optimus Bailes Optimus com o Real Combo Lisbonense) – o Porto – em pleno boom da era Ryanair; tal como Barcelona, a segunda cidade portuguesa no momento de se afirmar – o Parque da Cidade – um dos parques urbanos mais bonitos de Portugal; um cenário de condições idílicas para um festival. Faltava saber o resto, mas só isto chegava: este festival tinha que ser uma coisa especial. E não havia como eu não estar envolvido. Era como se isso estivesse escrito naquela notícia que acabava de ler.

pause O que aconteceu antes e e depois dessa notícia foi uma sequência de ‘good events’: intuições > acções > decisões.

rewind No inicio de tudo está a relação de amizade que foi nascendo entre dois festivais: Paredes de Coura e Primavera Sound. As mútuas visitas, as afinidades de gostos, as muitas conversas, e o respeito mútuo levaram a uma ideia: fazerem juntos o Primavera Sound no Porto – mais concretamente no Parque da Cidade. Para materializar essa ideia era preciso passar ao campo politico. A Câmara Municipal do Porto foi sondada sobre o interesse de fazer acontecer o festival no Parque da Cidade. Pode ter supreendido muita gente, mas a verdade é que Rui Rio, presidente da Câmara do Porto na altura, percebeu o que tinha a perceber e comprometeu-se com a ideia. Faltava um patrocinador: entra a Optimus. A Optimus trazia mais do que o investimento directo no festival: trazia todo o capital de ser uma grande empresa do Porto e a experiência de estar presente na música com uma estratégia diversificada mas consistente. No momento em que se comprometeu como ‘main sponsor’ a Optimus está em condições de dar um salto quase-quântico na sua relação com um grande festival de música.

pause Tudo isto aconteceu antes do Optimus Primavera Sound ser anunciado, a 3 de Outubro de 2011. Ou seja, antes me ter cruzado com o que viria a ser um dos mais importantes projectos da minha história pessoal e profissional.

press play A minha primeira conversa sobre Primavera Sound no Parque da Cidade do Porto aconteceu pouco depois, numa noite quente de Outubro, no Porto: uma longa e estimulante conversa com o Pedro Moreira da Silva (director de comunicação e activação de marca da Otimus), entre copos e concertos, durante a primeira edição da Debandada. Foi só uma conversa informal, mas na verdade foi mais do que isso: foi um encontro de pontos de vista entre agentes que normalmente estão em campos distantes: um artista e uma marca / patrocinador principal. Final de Outubro: a primeira de muitas visitas ao Parque da Cidade e a primeira conversa ‘a sério’. Um almoço com o Pedro Moreira da Silva (Optimus, patrocinador) e o José Barreiro (PicNic, promotor). Nesse encontro foi-me feito um desafio: diz-nos o que pensas, como vês o teu possível papel neste festival, e quanto custa o teu trabalho.

pause O meu desafio seria: pensar o recinto do festival, articulando a experiência artistica (músicos e público), com a comunicação de marcas e com todas as necesidades técnicas e logisticas inerentes ao festival.

play / pause / rewind / pause / play / fast forward / pause / play Dois meses de pesquisa, reflexão e desenho. Toda a minha visão alargada do mundo da arte, toda a minha ligação com o mundo da música, da cultura popular, do espectáculo e da experiência artistica como um todo; toda a minha experiência profissional multifacetada… tudo isso confluiu para que na minha cabeça começasse a surgir uma ‘imagem’ para aquele festival.

pause Em dezembro 2011 entreguei um documento de 10 páginas: “Optimus Primavera Sound – proposta de direcção artística e cenográfica”

copy / paste Citação do documento (dezembro 2011): “O Parque da Cidade do Porto é um cenário quase idílico. Apesar de localizado praticamente no meio da cidade, está relativamente bem protegido através da vegetação e da configuração do terreno. A geografia e tipologia do recinto do festival são perfeitas. A inclinação natural do terreno permite excelente visibilidade sobre os palcos. O terreno, quase todo relvado, assegura grande conforto para público. As pessoas podem sentar-se, ou deitarem-se, facilmente e descansar. A distribuição espaçada dos palcos e das várias infra-estruturas deixa zonas de respiração e descanso que podem ser usadas pelas pessoas. Num contexto destes o desafio é: como potenciar as qualidades desta localização? Como aproveitar as circunstâncias para alterar o modo de pensar e construir um festival? Como proporcionar ao público, aos artistas e aos profissionais em geral, uma outra experiência? Conseguir estes objectivos só é possível com um grande comprometimento e trabalho de equipa. Só com a sintonia de todos os envolvidos é possível conseguir algo de novo.”

stop O meu programa de trabalho foi aprovado e no incio de 2012 assumi ‘oficialmente’ funções. Um acordo em duas frentes: trabalharia em simultâneo para o promotor e para o patrocinador principal. Estávamos conscientes que este era um modelo novo, nunca ensaiado, na concepção do espaço de um grande festival. Era um desafio para todos.

play / increase speed Mergulhar no Parque da Cidade – conhecer todos os recantos do recinto – saber o mais possível sobre tudo o que iria acontecer – conhecer as pessoas – quem é quem e quem vai fazer o quê – recolher e partilhar informação – definir uma estratégia para o todo – prestar atenção a inúmeros detalhes – imaginar – desenhar – verificar – explicar – re-desenhar – orçamentar – fazer – acompanhar. Por de pé primeira edição do OPS foi sem dúvida o desafio mais dificil de materializar. Os meses – semanas – dias – antes da estreia foram intensos e muito exigentes, fisica e emocionalmente – mas também muito excitantes e entusiasmantes. Quase na recta final, aquela que seria a minha primeira ida a um Primavera Sound em Barcelona, uma semana antes da estreia no Porto. Precisava conhecer a ‘mãe’ antes de o ‘filho’ nascer. Precisava sentir o Primavera Sound – o público, a música, o ambiente – na cidade onde ele nasceu. Precisava estar ali, com as pessoas que ‘inventaram’ o Primavera Sound, antes de juntos assistirmos ao incio de um novo capítulo para um dos melhores festivais de música do mundo.

freeze Parque da Cidade do Porto – 7 de Junho de 2012. Quando as portas abriram, o Optimus Primavera Sound mais do que um festival parecia um milagre. Alguns de nós choraram. Não vou dizer quem, apenas que houve lágrimas portuguesas e espanholas. Como artista e músico foi e continua a ser um grande desafio fazer o Primavera Sound no Porto. É um dos meus mais generosos contributos para o ‘mundo da música’. Espero que tenha uma vida longa. Muito longa. Sem algumas pessoas aquilo que nestes quatro anos tenho pensado para o Primavera não teria acontecido: gabi ruiz, pablo soler, alberto guijarro rey, alfonso lanza, maxi ruiz, abel gonzales, pedro moreira da silva, jó barreiro, lino machado, bárbara carvalhosa, marina reino, filipe lopes, joão carvalho, zé eduardo martins, andré cruz, miguel vieira baptista, rui gato, ze alvaro correia – e todos os outros que todos os anos encontro no parque da cidade para juntos fazermos magia.

rewind Abril de 2012, Porto. Em plena preparação do festival. Os amigos/parceiros de Barcelona vêm ao Porto para dois dias de trabalho. Finalmente iriamo-nos conhecer. O Jó apresenta-me ao Gabi Ruiz, e acrescenta: o João Paulo tinha uma banda, os Tina & The Top Ten. O Gabi salta da cadeira e diz: hombre, fue yo quien vos llevou al Nitsa Club !!! E nesse momento tudo fez sentido.

stop Lisboa, Abril 2014 Flaming_lips_OPS_2012

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Una respuesta a 20 Years After. A minha história com o Primavera Sound

  1. David Rippon dijo:

    Theres a very real chance I might cry for a month If I dont get a tox for the Friday night. Traveling from Dublin. I will bring you a bottle of the world (in)famous Buckfast Tonic WIne. Please

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